How it is
É muito importante darmos atenção ao que os amigos nos dizem, porque querem o nosso bem e têm um visão (quase sempre) neutra das coisas que se passam connosco. Às vezes têm razão, outras não, mas fazem-nos sempre pensar (e ainda bem).
Às vezes incomoda-me que a minha vida emocional/sentimental (não sei que palavra escolher) seja tão vasculhada e discutida. Mas sou eu que provoco isso, porque a discrição nunca foi o meu forte. Há quem lhe chame ingenuidade, há quem lhe chame estupidez. Um outro amigo disse-me uma vez que confiava em toda a gente, que não tinha nada a esconder, que não tinha medo de juízos. Pois... esse amigo também acha que os extraterrestres nos vêm salvar do Apocalipse, lá para 2029.
E porque não nos apaixonamos por quem devemos?
Porque as coisas não funcionam assim.
Os cientistas falam em feromonas, endorfinas, serotoninas, nós dizemos "química", mas a realidade é que não se sabe bem como alguém nos desperta o interesse.
Depois há os "tipos". Um enorme disparate. "Aquela rapariga não faz o meu tipo de mulher".
O meu "tipo" de homem, até há poucos anos atrás, limitava-se a ser "um gajo alto, que me faça rir e que goste de cerveja".
E crescemos. E uma pessoa que gosta dos mesmos livros que eu, que conhece os pintores de que falo, dos realizadores que me fascinam, que acha piada ao meu tricot, que beba cerveja e até fume (experimentem ser fumadores e terem uma relação com alguém que não o é!). E nada disso quer dizer que eu me vá sentir atraída por ele.
Um gajo que não fume, que não leia, que não tenha paciência para os filmes de que eu gosto, que acha que a "arte" é uma desculpa para os intelectuais parecerem intelectuais, que me chame velha por causa do tricot... bom, se calhar até olho duas vezes.
E dou por mim no café, com o meu melhor amigo a perguntar-me se eu não tenho amor-próprio.
Respondi-lhe: O que queres que faça? Não consigo evitar.
E se calhar não quero evitar mesmo.