terça-feira, agosto 02, 2005

Tenho um reportório de cerca de 100 poemas escritos. Porque é que os escrevi? Não sei. Na generalidade foi uma fúria que me deu. Uma dor que senti. Uma angústia que não controlei. Uma emoção e um sentimento aliados a um tempo esquecido.
Grande parte deles não têm qualquer valor literário para mim. Ao longo dos anos perguntaram-me - Porque é que não editas um livro? Dá-me vontade de rir. Não foi para isso que os escrevi. A poesia para mim é o espantar dos fantasmas que me perseguem.

Nunca li muito ao longo da minha vida. Tive periodos de actividade literária imensa e intensa, e muitos e longos periodos em que nem para um livro olhara.
Não me considero um bom poeta. Creio que sempre escrevi com a intenção, secundária é certo, de o mostrar a alguém. Hoje leio o que escrevi há 5 anos, e relembro o momento em que o fiz, o que senti, o que tinha na minha mente.

Para mim:

Poesia é escrever por gosto de o fazer. Essa é a última das verdades da poesia, e no entanto a maior delas. Se possível fosse descrevê-la, então creio que nunca mais na minha vida numa caneta pegaria.
Tenho periodos de escrita intensa, alternados por ainda maiores periodos sem escrever. Um bocado como a minha actividade literária. Mas a poesia tem um bichinho. Durante esses periodos em que não escrevo, urge em mim, de vez em quando, a vontade de o fazer. No entanto não o consigo sequer pensar, as palavras não saiem. A poesia não se escreve por querer, escreve-se porque tem de se escrever, porque se não o fizer, vou-me arrepender. Vou prender algo que corrói a minha mente. A poesia tem de se libertar, é algo que não posso acorrentar aos recantos do meu pensamento.

Infelizmente, e como não poderia deixar de ser, aquela que considero a minha obra-prima, pelo menos até aos dias que correm, ficou perdida para sempre na indiferença da pessoa a quem a ofereci. Parece ser este o fado da minha vida. Ainda a guardou durante muito tempo. Já nem me lembrava que um dia a tinha escrito, e muito menos que lha tinha oferecido, quando um dia a mim ma mostrou. Quando acabei de o ler olhei para essa pessoa e perguntei-lhe aquilo que nunca pensaria perguntar sobre algo da minha autoria - Quem é que escreveu isto? Quando ouvi a resposta fiquei parvo e voltei a lê-lo. Não conseguia acreditar que um dia, num momento de profunda e eterna inspiração, eterna porque ali ficou gravado, poderia alguma vez escrever algo como o que acabava de ler. Afinal não era eterna... ficou perdido. Nunca mais o vou poder ler. E choro por um poema, meu ou de outro alguém, isso não interessa. Nunca ninguém o devia fazer. O belo não é para chorar, é para viver.