quinta-feira, agosto 18, 2005

Lua Cheia. Uma noite, não tão igual às outras.

Lembro-me de uma noite. Tinha 12 anos. Creio que foi a minha primeira noite em branco. Curioso pensar numa noite com uma cor como o branco. Lembro de me ter deitado e não conseguir dormir. Dei mil voltas entre os lençois e a almofada era desconfortável. Por mais que tentasse, fechar os olhos era mais um tormento que uma benção. Não dormia. Quando olhei o relógio na mesa de cabeçeira, marcava meia-noite e meia.

A minha cama estava encostada a uma parede, e mesmo por cima da minha cama estava a janela do meu quarto. Como não conseguia dormir, sentei-me na cama, sobre os meus joelhos, e olhei a paisagem que se via da janela. Observei a encosta que ladeava o bairro onde morava. A minha casa era quase no topo da encosta. Essa janela dava para as traseiras da minha casa onde não existiam casas e a vista permitia ver a encosta verde da serra. Durante a noite não era mais que uma superfície de ervas negras que se moviam ao sabor do vento. Para lá da encosta a paisagem extendia-se entre campos e aglomerados de habitações, num vale que se extendia até ao horizonte em todas as direcções.

Foi precisamente o horizonte que fiquei a olhar. E havia algo estranho. Algo começava a surgir por detrás do horizonte. Um corpo de cor alaranjada muito forte. De ínicio não era mais que um pequenissimo meio circulo. Mas não tardou a começar a elevar-se mais alto e a mostrar-se cada vez mais. Até que se mostrou completamente. Fiquei pretrificado, quase hipnotizado a observar. Era tão belo e estranho ao mesmo tempo. Fascinante.

Mas não conseguia perceber que objecto estranho era aquele. Observei-o durante mais uns minutos, enquanto ainda mantinha a mesma cor, e continuava a elevar-se nos céus, grande, muito grande, cada vez mais afastado do horizonte.

Fui deitar-me novamente. Continuava agitado e sem conseguir dormir. A imagem do grande circulo laranja, no céu escuro da noite, continuava no meu pensamento. Decidi ir espreita-lo novamente. Já passava das duas horas da manhã.

Desta vez percebi o que era! Já se encontrava bem mais alto no céu. A sua cor era agora amarelada. Já não parecia tão grande, mas não deixava de o continuar a ser.

Fiquei a observa-la. Agora já era branca. Brilhante como prata. Grande. A paisagem agora era diferente. A encosta ja não era escura. Tudo parecia iluminado. Agora as ervas que bailavam ao vento eram de um verde escurecido, mas ao mesmo tempo brilhavam. Tudo parecia iluminado.

Pela primeira vez na minha vida via a Lua Cheia desde o momento que se começava a mostrar por detrás do horizonte, até ser rainha no céu da noite.

Observei-a até deixar de a poder ver. Desapareceu por detrás do horizonte, passadas algumas horas. Voltei a deitar-me, depois de uma noite de vigilia silenciosa. Desde esse dia, que não mais voltei a esquecer, que falo com ela em pensamento. É a minha melhor amiga.

Esta noite vai ser de Lua Cheia. E eu sei que vou, mais uma vez, falar com ela. Creio que agora sou só um lunático. A Lua é a minha deusa. A noite é o seu templo.