sábado, dezembro 11, 2004

No dia em que entregámos o projecto, fiquei com uma das minhas colegas num café à espera dos rapazes que tinham ido imprimir a besta. O café, que fica na Alameda, estava absolutamente vazio, e a dona era extremamente simpática. Acabou por se sentar na nossa mesa e ficámos uma boa hora e meia a conversar (aparentemente, trabalhos de 103 páginas demoram eternidades a imprimir...).
A senhora em causa sabia um pouco de tudo. Quando lhe dissemos que eramos Geólogas, ela falou em escarpas. Foi surpreendente, uma vez que a maioria das pessoas confunde a Geologia com Geografia, quando não nos dizem: "aaahh, aquilo dos calhaus, não é? Muito giro, mas o que se faz com isso?", com desdém. Vou divagar, mas é importante referir como isso me irrita. Não imaginam a quantidade de vezes que oiço estas frases. Então ó meus anormais, vocês vivem em cima de quê? T E R R A, cujo o prefixo é Geo, logo, Geologia = estudo da TERRA. Não pego num calhau há anos.

Enfim, falamos durante muito tempo, sobre tudo. Inclusivé do chamado mundo oculto, pois a minha colega é muito agarrada a esse tipo de coisas. Então a senhora decidiu adivinhar os nossos signos. O da minha colega foi à segunda, quando chegou à minha vez, ela disse o seguinte: "O seu é fácil. Escorpião.". Pois eu não sou uma típica escorpiana, por isso fiquei aborrecida. Não gosto de ser escorpião, os escorpiões são maus e vingativos.
Mas não era isso que vos queria contar. Ela disse uma coisa que eu não vou esquecer nunca. Porque na altura estava a passar um mau bocado, e quando estou em baixo sou difícil de compreender. E porque na altura em que estava no café, com o projecto a ser impresso, as coisas estavam a começar a ficar mais sorridentes. E foi então que ela disse: "tu precisas de bater no fundo para vir ao de cima. Precisas de estar triste para renovar. Para crescer. Não é fácil, mas é a tua maneira."

Deu-me vontade de chorar, ali mesmo. Juro. Andava à tanto tempo na merda, à procura de uma resposta para toda aquela confusão de sentimentos e emoções que estava a sentir, e foi ali, num café que nunca tinha ido antes, a falar com uma pessoa que nunca me tinha visto antes e que pouco me conhecia, que ouvi a única coisa que me fez bem ouvir durante aquele tempo todo. Vindo de uma desconhecida.
É por isso que estou com medo agora. Subi até cá acima e cada vez que olho para baixo, tenho medo de lá voltar. Mas a verdade é que preciso de uma renovação.