sexta-feira, novembro 04, 2005

K.

'Parece-me, aliás, que não deveríamos ler senão os livros que nos mordem e nos picam. Se um livro que lemos não nos desperta como um soco no crânio, para quê lê-lo? Para que ele nos torne feliz, como tu dizes? Meu Deus, seríamos igualmente felizes se não tivéssemos livros, e livros que nos tornam felizes, em rigor, podíamos nós próprios escrevê-los. Em contrapartida, precisamos de livros que agem sobre nós como uma infelicidade de que muito padecêssemos, como a morte de alguém que amássemos mais do que a nós próprios, como se fôssemos proscritos, condenados a viver em florestas, longe de todos os homens, como um suicídio — um livro deve ser o instrumento que quebra o mar gelado em nós. Eis aquilo em que acredito.'

Kafka numa carta para o seu amigo Oskar Pollack
Janeiro de 1904

Fui à minha biblioteca (ainda a crescer) para ver o que realmente me faltava. Lembrei-me d'O Covil, um livro de Franz Kafka que estava na minha lista de futuras leituras quando tinha uns 16 anos. Nunca cheguei a ler, fiquei na Metamorfose, no Castelo e acabei no Processo, que já não achei muito interessante. Nessa altura Kafka fascinava-me e depois de uma pequena pesquisa sobre a sua obra, reparo agora que a minha interpretação das coisas não era a partilhada por estes intelectuais do mundo.
Se calhar deviamos estudar Kafka na escola, em vez de Eça de Queiroz. Apesar de pesado (mas também duvido que mais de 30% dos estudantes se dediquem à leitura dos Maias), acredito que os adolescentes se identifiquem mais com um mundo onde as personagens se sentem desprezadas, impotentes, rodeados por uma autoridade que não justifica os seus próprios actos.
Outro livro que me falta na biblioteca é o "The Fountainhead", de Ayn Rand, cujo título desconheço em português (pelo menos a Fnac não tem nenhuma obra desta escritora editado na nossa língua).
E tudo porque para a semana vou correr duas feiras e queria escolhê-los a dedo (mas sempre com aquelas surpresas na mochila que escolho pelo título ou pelo autor).