terça-feira, outubro 25, 2005

We all take turns, I'll get mine too*

lápide

a contínua escuridão torna-se claridade
iridescência lume
que incendeia o coração daquele cujo ofício
é escrever e olhar o mundo a partir da treva
humildemente
foi este o trabalho que te predestinaram
viver e morrer
nesse simulacro de inferno

meu deus!
tinha de escolher a melhor maneira de arder
até que de mim nada restasse senão um osso
e meia dúzia de sílabas sujas
calcinadas

(...)

o pior é que me falta tempo
sinto a manhã cada segundo mais próxima
ameaçadora e cruel
a luz arrastar-me-á para uma espécie de inércia inexplicável
o silêncio será definitivo
o sangue adormece nas veias e o desejo de permanecer
arremessar-me-ia para o esquecimento sem regresso
poderia até projectar um eventual regresso antes de partir
tenho a certeza de que parto para sempre
não haverá regresso nenhum

Al Berto


*Pixies

Só desejo, muito baixinho, com medo de ferir com palavras, que estejas num sítio melhor, mesmo que não acredite em nada disso.
E custam-me as palavras porque se torna difícil pensar nisso.