ainda agora
ao ler esta última mensagem da Carina e respectivos comentários pus-me a pensar em álcool e histórias com pela menos alguma piada para colocar aqui. mas cheguei à seguinte conclusão: "oh efendi, tu não costumas beber muito, pois não? se disseres alguma coisa não será inventado"? disse eu para mim próprio.
bem, realmente é verdade. raramento bebo, sou quase um abstémio (diachos, espero não me ter enganado na palavra). ainda pensei em escrever sobre aquela vez em que acordei dentro de uma cabine telefónica depois de, ainda estava eu na Universidade, ter ido saír com uns amigos. não é que um, depois de todos nós termos bebido demais, me despachou para dentro de tão reduzido espaço tudo porque estava a chover e eu não me despachava. claro que só acordei no dia seguinte quando um inoportuno rapaz escolheu aquele telefone para contar à família as novidades da semana: "sim mãe, já comi. não mãe, ainda não fui levantar o dinheiro que puseste na conta. não mãe, ainda não saiu a nota do exame. ah, espero não o ter perturbado muito. pode continuar a dormir. obrigado."
mas esta história não parece ser muito verdadeira, pois não? e não é. mas no saudoso (saudades, saudades. nunca pensei que ia gostar tanto) euro 2004, aquilo da bola, em que Portugal perdeu, e eu que gosto mesmo muito de futebol, aconteceram várias perípécias simplesmente memoráveis. nem foi bem pelo futebol. aqui convém recuar um pouco mais atrás.
não sei se vocês tinham uma certa tendência para se apaixonarem de modo desenfreado quando eram miúdos? daquelas cenas de se apaixonarem por qualquer rapariga? bem, eu fui mais ou menos assim. apaixonava-me por qualquer rapariga que conversasse comigo. nem eram precisos diálogos muito metafísicos ou, digamos, inteligentes. podiam ser mais ou menos assim:
"olá mário, já chegaste? vieste cedo".
"pois vim, o autocarro hoje veio depressa"
"como estás?"
"estou bem, e tu"
"eu também. fizeste os trabalhos de casa?"
"pois claro. não há divertimento antes de cumprir as minhas tarefas."
"então queres ir ao bar comigo? conversamos e tu deixas-me ver".
e pronto, já estáva apaixonado. vocês viram como nesta, aparentemente, simples conversa fluíram uma imensidão de sinais e volúpias? pois sim. mas apaixonar-me mesmo, na verdadeira acepção da palavra (espero não me ter enganado) somente duas vezes. da primeira recordo, mais que tudo, a inteligência, muito superior à minha, a bem dizer também não é díficil. é a única mulher que conheço o nome inteiro. chamáva-se, chama-se Ana Sofia (sinceramente, digam o que disserem, mas não há nome mais bonito do que Ana. o próprio pronunciar do a, que se arrasta na boca até alcançar o na, é das coisas fonéticas mais belas que existem). depois porque tinha o cabelo mais bonito que os meus olhos já viram. negro, escorria pela cabeça até atingir o pescoço. também os olhos. agora, ao pensar nos olhos, hesito que talvez terão sido os olhos que me levaram quase a morrer por ela. eram azuis, mas de um azul líquido. se nós dirigíssemos o olhar rumo aos seus olhos quase que podíamos entrar dentro da sua mente. eram translúcidos, vítreos. a boca, tantas vezes eu desejei colar os meus lábios à carne que envolvia o sorriso mais bonito que eu já vi.
enfim, chamava-se ana sofia e um dia eu morri e nunca mais a vi. mas da última vez beijei-lhe a face e sussurei-lhe ao ouvido: "amar-te-ei sempre, mesmo na escuridão". bem, o que eu queria era utilizar esta forma verbal. o ei dá-me sinais de esperança depois do amar. é bonito.
agora gostava de vos falar da Joana, também a mulher mais bonita do mundo, de todo o sempre, e para sempre, agora, hoje, amanhã, para a semana, daqui a um ano, pois. também o nome me é querido. não joana, relativamente vulgar, mas sim maciel. adoro o nome maciel. quando o ouvi então disse. "abrasse uma garrafa de vinho maciel, para comemorar". (bem, está quase a chegar a parte em que vos falarei de álcool, calma). conheci a joana com beckett. é verdade. ela é uma leitora ávida daquele tipo. nunca tinha lido. bolas, agora que estou a falar da joana as frases tornam-se mais curtas, os meus dedos parece que tremem ao tocar no teclado. bem, ela lia beckett, eu li depois mas nunca falámos sobre isso. que se lixe. não quero falar sobre a imagem física dela. digamos que sou bastante possessivo e não quero partilhar. ela é por demais bonita. da segunda vez que a vi realizou-se o portugal rússia, do euro 2004. encontrámo-nos à tarde. comecei a beber, bastante. ainda não tinha comido nada, nem nesse dia, nem no anterior. ao fim de 6 cervejas já estáva completamente bêbado. a última memória é a do golo do maniche. depois disso, só me lembro do sorriso da joana, do toque no meu braço da joana, do afagar no meu rosto, das mãos delicadas a passarem pela minha cabeça, pelos meus olhos. do beijo da joana quando eu tropecei e caí para o umbral da porta. enfim, ela também estáva bêbada, estávamos todos. mas eu mais do que todos.
para terminar, morri também no final do ano passado e nunca mais falei com a joana. sou demasiado obcessivo e lamento tanta coisa. perco a noção quando falo ou escrevo sobre ela. sou outro, diferente.
como disse lobo antunes, a única coisa que eu desejei foi que "o teu sorriso abrisse uma frincha clara nas trevas".
ps: no fundo, esta é a minha tímida e pobre homenagem ao escritor Cabrera Infante e ao Havana para um Infante Defunto.
bem, realmente é verdade. raramento bebo, sou quase um abstémio (diachos, espero não me ter enganado na palavra). ainda pensei em escrever sobre aquela vez em que acordei dentro de uma cabine telefónica depois de, ainda estava eu na Universidade, ter ido saír com uns amigos. não é que um, depois de todos nós termos bebido demais, me despachou para dentro de tão reduzido espaço tudo porque estava a chover e eu não me despachava. claro que só acordei no dia seguinte quando um inoportuno rapaz escolheu aquele telefone para contar à família as novidades da semana: "sim mãe, já comi. não mãe, ainda não fui levantar o dinheiro que puseste na conta. não mãe, ainda não saiu a nota do exame. ah, espero não o ter perturbado muito. pode continuar a dormir. obrigado."
mas esta história não parece ser muito verdadeira, pois não? e não é. mas no saudoso (saudades, saudades. nunca pensei que ia gostar tanto) euro 2004, aquilo da bola, em que Portugal perdeu, e eu que gosto mesmo muito de futebol, aconteceram várias perípécias simplesmente memoráveis. nem foi bem pelo futebol. aqui convém recuar um pouco mais atrás.
não sei se vocês tinham uma certa tendência para se apaixonarem de modo desenfreado quando eram miúdos? daquelas cenas de se apaixonarem por qualquer rapariga? bem, eu fui mais ou menos assim. apaixonava-me por qualquer rapariga que conversasse comigo. nem eram precisos diálogos muito metafísicos ou, digamos, inteligentes. podiam ser mais ou menos assim:
"olá mário, já chegaste? vieste cedo".
"pois vim, o autocarro hoje veio depressa"
"como estás?"
"estou bem, e tu"
"eu também. fizeste os trabalhos de casa?"
"pois claro. não há divertimento antes de cumprir as minhas tarefas."
"então queres ir ao bar comigo? conversamos e tu deixas-me ver".
e pronto, já estáva apaixonado. vocês viram como nesta, aparentemente, simples conversa fluíram uma imensidão de sinais e volúpias? pois sim. mas apaixonar-me mesmo, na verdadeira acepção da palavra (espero não me ter enganado) somente duas vezes. da primeira recordo, mais que tudo, a inteligência, muito superior à minha, a bem dizer também não é díficil. é a única mulher que conheço o nome inteiro. chamáva-se, chama-se Ana Sofia (sinceramente, digam o que disserem, mas não há nome mais bonito do que Ana. o próprio pronunciar do a, que se arrasta na boca até alcançar o na, é das coisas fonéticas mais belas que existem). depois porque tinha o cabelo mais bonito que os meus olhos já viram. negro, escorria pela cabeça até atingir o pescoço. também os olhos. agora, ao pensar nos olhos, hesito que talvez terão sido os olhos que me levaram quase a morrer por ela. eram azuis, mas de um azul líquido. se nós dirigíssemos o olhar rumo aos seus olhos quase que podíamos entrar dentro da sua mente. eram translúcidos, vítreos. a boca, tantas vezes eu desejei colar os meus lábios à carne que envolvia o sorriso mais bonito que eu já vi.
enfim, chamava-se ana sofia e um dia eu morri e nunca mais a vi. mas da última vez beijei-lhe a face e sussurei-lhe ao ouvido: "amar-te-ei sempre, mesmo na escuridão". bem, o que eu queria era utilizar esta forma verbal. o ei dá-me sinais de esperança depois do amar. é bonito.
agora gostava de vos falar da Joana, também a mulher mais bonita do mundo, de todo o sempre, e para sempre, agora, hoje, amanhã, para a semana, daqui a um ano, pois. também o nome me é querido. não joana, relativamente vulgar, mas sim maciel. adoro o nome maciel. quando o ouvi então disse. "abrasse uma garrafa de vinho maciel, para comemorar". (bem, está quase a chegar a parte em que vos falarei de álcool, calma). conheci a joana com beckett. é verdade. ela é uma leitora ávida daquele tipo. nunca tinha lido. bolas, agora que estou a falar da joana as frases tornam-se mais curtas, os meus dedos parece que tremem ao tocar no teclado. bem, ela lia beckett, eu li depois mas nunca falámos sobre isso. que se lixe. não quero falar sobre a imagem física dela. digamos que sou bastante possessivo e não quero partilhar. ela é por demais bonita. da segunda vez que a vi realizou-se o portugal rússia, do euro 2004. encontrámo-nos à tarde. comecei a beber, bastante. ainda não tinha comido nada, nem nesse dia, nem no anterior. ao fim de 6 cervejas já estáva completamente bêbado. a última memória é a do golo do maniche. depois disso, só me lembro do sorriso da joana, do toque no meu braço da joana, do afagar no meu rosto, das mãos delicadas a passarem pela minha cabeça, pelos meus olhos. do beijo da joana quando eu tropecei e caí para o umbral da porta. enfim, ela também estáva bêbada, estávamos todos. mas eu mais do que todos.
para terminar, morri também no final do ano passado e nunca mais falei com a joana. sou demasiado obcessivo e lamento tanta coisa. perco a noção quando falo ou escrevo sobre ela. sou outro, diferente.
como disse lobo antunes, a única coisa que eu desejei foi que "o teu sorriso abrisse uma frincha clara nas trevas".
ps: no fundo, esta é a minha tímida e pobre homenagem ao escritor Cabrera Infante e ao Havana para um Infante Defunto.
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