quinta-feira, abril 14, 2005

De há uns tempos para cá que ando a criar umas crises de identidade. Diferentes daquelas da adolescência, quando o mundo inteiro me odiava e eu odiava o mundo. Mas se calhar.. não tão diferentes assim. Há uns dias disse ao Bento que já não me sentia uma adolescente. Mas que também não me sentia uma adulta completa, porque ainda não tenho grandes responsabilidades, nem a personalidade totalmente formada.
Ok, preparem-se, porque vou começar a divagar.
Adoro a minha mãe. Gosto da ingenuidade dela, da bondade natural que ela tem, do facto dela tentar ver sempre o lado bom das pessoas e nunca, nunca, agir com maldade. Sabem que nunca vi a minha mãe ser má para ninguém? Nem para mim, quando risquei a casa de banho com caneta?
Gosto de ter apanhado uma parte dela, com a educação que ela me deu.
Mas a minha mãe é demasiado ingénua, e deixa que se aproveitem dela. E isso consome-a por dentro, porque é extremamente frustrante não saber dizer NÃO a ninguém, nem mesmo às cabras de merda que a pisam constantemente. Eu tento explicar-lhe que às vezes é libertador impor o respeito que merecemos, sempre de maneira educada, claro. Ok, nem sempre. Ela é incapaz.
O meu pai é extremamente intolerante, brusco e foi a figura severa da minha educação. Nunca percebi muito bem o que raio eles vêm um no outro, de tão diferentes que são. O meu pai dava-me horas estupidamente ridículas para chegar a casa, castigava-me quando eu tinha más notas e nunca foi muito carinhoso para mim, ao contrário da minha mãe, que me abraça e dá beijinhos constantemente.
O meu pai teve um esgotamento há pouco tempo e acho que lhe surgiu um arrependimento extremo da maneira como se comportou, tão fria, ao longo de todos estes anos. Há coisa de 2 anos, eu e o meu pai mal falávamos e podia ser sincera ao dizer que gostava dele como meu pai que é, mas não gostava dele como pessoa.
Ele mudou. Olho para ele e vejo outro homem. Mais calmo, mais dado, mais carinhoso, mais compreensivo.
Olho para trás e agradeço a educação que ele me deu, e aquilo que apanhei dele também.
No final das contas, este yin e yang que são os meus pais geraram esta criatura que sou eu, um pouco mais equilibrada que eles. Ainda bem.

No entanto, apesar de todos os dias repensar nas coisas em mim que me fazem ficar triste e que quero mudar, não deixo de me sentir.. incompleta. Falta-me qualquer coisa para crescer, qualquer coisa para me sentir adulta. Responsabilidades? Talvez. Só sei que acordo todos os dias e ao olhar para o espelho da casa de banho não sinto grande orgulho naquilo que sou agora. E o pior de tudo é que me falta a vontade de... a vontade de mudar?

Não, não é a TPM a falar.